mergulhem-se

domingo, 15 de agosto de 2010

O jardim de cimento - Ian McEwan, Romance

Esse é o primeiro romance de McEwan, e de todos os que li até agora, sinto que é o melhor. Parece que aqui sim, McEwan acerta com sua habilidade técnica literária para uma história genial que exige desenvoltura. Não dá para julgá-la, senão como obra isolada, tamanha a diferença com outros livros do mesmo autor - por exemplo "Na Praia" que não é nada demais. A narrativa pragmática, detalhada, (distanciada até), aparentemente fria ou mórbida e sem qualquer psicologismo de McEwan adentra o universo de uma família completamente absurdo e a transforma em algo impressionantemente natural (além de curioso, gostoso de ler também pelo clima de tensão sempre muito bem pensado).

Quatro irmãos (Julie, 17, Jack, 15, Sue, 12, Tom, 6), perdem os pais repentinamente logo no começo do livro, ao manterem isso em segredo passam a viver sozinhos na casa isolada da família. O enredo se constrói a partir de então quando eles tém a possibilidade de experimentar uma sensação extrema de liberdade e perda que se misturam do começo ao fim. Antes que ninguém externo descubra o fato ocorrido, passam-se meses em que as personagens vivem à margem da moral social, se descobrindo, estreitando o laço entre si (que passa da fraternidade, maternidade, até o erotismo), transformando também as relações consigo mesmo (numa auto-descoberta e amadurecimento contínuo) e até na relação com a casa onde vivem. São rumos inusitados para situações inusitadas que de acordo com a naturalidade que são desenvolvidas nos faz acreditar que era assim mesmo que as coisas deveriam ser feitas.

É impressionante a habilidade "cirúrgica" de McEwan costurando com domínio e precisão todo desencadeamento dos fatos. Além da originalidade com que são contados.





O jardim de cimento
Ian McEwan
Ed. Companhia de Bolso
129 páginas

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