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domingo, 8 de abril de 2012

Um não acabar mais, Wistawa Szymborska, poema

Sou quem sou.
Um acaso inconcebível
como todos os acasos.

Outros antepassados
poderiam afinal, ser os meus,
e então de outro ninho
sairia voando,
de debaixo de outro tronco
rastejaria, coberta de escamas.

No guarda-roupa da Natureza
há trajes de sobra:
o traje da aranha, da gaivota, do rato do campo.
Cada um assenta de imediato que nem uma luva
e usa-se obedientemente
até se gastar por completo.

Eu tampouco tive alternativa,
mas não me queixo.
Poderia ser alguém
muito menos individual.
Alguém do cardume, do formigueiro, do enxame zuninte,
uma partícula da paisagem agitada pelo vento.

Alguém muito menos feliz,
criado para dar a pele,
para a mesa festiva,
ou algo que nadasse sob a lente.

Uma árvore presa à terra,
da qual o fogo se aproximasse.

Um mero cisco esmagado
pela marcha dos acontecimentos inconcebíveis.

Um indivíduo nascido sob a estrela ruim
que para outros seria boa.

E o que seria se despertasse nas pessoas medo?
Ou só aversão?
Ou só piedade?

Se não tivesse nascido
na tribo certa
e todos os caminhos se me fechassem?

Até agora, a sorte
mostrou-se me favorável.

Poderia não ter-me sido nada
a recordação de bons instantes.

Poderia ter-me sido negada
a tendência pata comparar.

Poderia até ser eu própria
mas sem o dom da admiração
quer dizer - alguém completamente diferente.




do livro de poemas "Instante", Wistawa Szymborska
Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves
Editora Relógio D'Água

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Jardim Botânico, poema, Adam Zagajewski



No Jardim Botânico de Cracóvia
deparei-me com uma árvore Asiática
com o nome de Metasequoia Chinesa – uma bela árvore
com folhas agulha achatadas.
Mas porquê metasequóia – e não apenas uma sequóia normal?

A metasequóia cresce além de si mesma?
Será que se eleva acima das outras árvores?
Até mesmo as plantas começaram a recorrer
ao misterioso jargão
de certos sábios académicos?