
Octávio Paz (1914 - 1998) foi um ensaísta e poeta mexicano, um dos mais considerados e controvertidos da segunda metade do século XX em seu país. Em O Labirinto da Solidão, públicado por ele em 1950, Paz abre um horizonte de reflexão que nos ajuda a entender e a situar não só o homem mexicano, mas também o latino-americano, em sua realidade emocional, mental, e social repelido dentro do contexto histórico mundial de hoje. Acredito que esse livro seja muito além do que um simples ensaio filosófico, há algo que nos faz, imagino, recobrar a consciência para o próprio ser.

"(...) Gente das cercanias, moradores dos subúrbios da história, nós, latino-americanos, somos os comensais não convidados que se enfileiraram à porta dos fundos do Ocidente, os intrusos que chegam à função da modernidade quando as luzes já estão quase apagando - chegamos atrasados em todos os lugares, nascemos quando já era tarde na história, também não temos um passado ou, se o temos, cuspimos sobre os seus restos; nossos povos ficaram dormindo durante um século, e enquanto dormiam foram roubados - agora estão em farrapos; não conseguimos conservar sequer o que os espanhóis nos deixaram ao ir embora; apunhalamo-nos entre nós... Não obstante, desde o chamado modernismo de final de século, nestas nossas terras hostis ao pensamento brotaram, aqui e ali, dispersos mas sem interrupção, poetas, prosadores e pintores que são comparáveis aos melhores de outras partes do mundo. Seremos agora, por fim capazes de pensar por nossa própria conta? Poderemos conceber um modelo de desenvolvimento que seja a nossa versão da modernidade? Projetar uma sociedade que não esteja fundamentada na dominação dos outros e que não termine nem nos gelados paraísos policiais do Leste nem nas explosões de náusea e ódio que interrompem o festim do Oeste?"
(Octávio Paz, O Labirinto da Solidão)