mergulhem-se

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vinte e quatro horas na vida de uma mulher - Stefan Zweig, Novela

Esta novela evoca completamente a paixão. A rotina de um hotel em Riviera (França) é quebrada após a chegada de um jovem bonito e simpático qual todos ficam encantados. Passados dois dias o jovem vai embora e leva com ele em fuga uma das hospedes - Madame Henriette - a qual acabara de conhecer. Inicia-se uma discussão entre todos no hotel por acharem um absurdo que esta possa ter abandonado marido e filhas por um homem que mal conhecia. O narrador-personagem, entretanto, faz questão de evidenciar os preconceitos alheios e argumentar que ela poderia muito bem ter fugido por uma paixão repentina e violenta. Uma senhora inglesa se interessa e parece entender as argumentações do narrador e o toma como confidente para contar 24h de sua vida em que foi completamente tomada pela paixão, as quais preenchem e descorrem o resto da novela. Assim Zweig evoca o fascínio da protagonista pelas mãos de um homem cativo pelo jogo: "o que me surpreendeu inicialmente de modo tão terrível foi sua febre, sua expressão loucamente apaixonada, este modo convulsivo de se estenderem e lutarem entre si. Compreendi ali imediatamente, era um homem cuja força transbordava e que concentrava toda sua paixão nas extremidades de seus dedos, para que esta não causasse a explosão de todo o seu ser." (Mrs C. em confissão ao narrador)

É impressionante o estado obsecado, intenso, explosivo, pálido (etc), com que são caracterizados os personagens em relação ao objeto de desejo. Ao buscar na memória o significado etimológico de 'paixão' lembro que se refere diretamente ao "sofrimento". (Paixão, do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação difícil) Ou seja, dizer-se apaixonado é confessar, sem o saber, a disposição para o sofrimento. O ser mergulhado neste estado encontra-se encharcado, tomado, contra a sua vontade, por um objeto do qual afirma não poder se privar. Zweig molda de forma precisa (ou imprecisa já que falamos de paixão) o modo com que se move o sujeito confrontado pela paixão, chega a ser fúnebre vez ou outra - sim, são casos de vida e morte, do patético à tragédia, do fetichismo compulsivo do colecionador à fixação toxicomana, até o distanciamento da loucura. "A identidade fatal do apaixonado nada mais é do que: eu sou aquele que espera" diz Roland Barthes, e então, apaixonados, terminamos no exílio.


Vinte e Quatro horas na vida de uma mulher
Stefan Zweig
Ed Record
237 págs

(Além da história que dá nome ao título, este livro conta com mais duas novelas, "Confusão de Sentimentos" e "Declínio de um Coração")



Stefan Zweig (1881 - 1942) foi um escritor austríaco. Morou no Brasil, Petrópolis, em sua segunda metade da vida, onde se suicidou.

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