É impressionante o estado obsecado, intenso, explosivo, pálido (etc), com que são caracterizados os personagens em relação ao objeto de desejo. Ao buscar na memória o significado etimológico de 'paixão' lembro que se refere diretamente ao "sofrimento". (Paixão, do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação difícil) Ou seja, dizer-se apaixonado é confessar, sem o saber, a disposição para o sofrimento. O ser mergulhado neste estado encontra-se encharcado, tomado, contra a sua vontade, por um objeto do qual afirma não poder se privar. Zweig molda de forma precisa (ou imprecisa já que falamos de paixão) o modo com que se move o sujeito confrontado pela paixão, chega a ser fúnebre vez ou outra - sim, são casos de vida e morte, do patético à tragédia, do fetichismo compulsivo do colecionador à fixação toxicomana, até o distanciamento da loucura. "A identidade fatal do apaixonado nada mais é do que: eu sou aquele que espera" diz Roland Barthes, e então, apaixonados, terminamos no exílio.
Vinte e Quatro horas na vida de uma mulherStefan Zweig
Ed Record
237 págs
(Além da história que dá nome ao título, este livro conta com mais duas novelas, "Confusão de Sentimentos" e "Declínio de um Coração")
Stefan Zweig (1881 - 1942) foi um escritor austríaco. Morou no Brasil, Petrópolis, em sua segunda metade da vida, onde se suicidou.
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