(escultura de camille claudel)
"Está machucando? - O doutor perguntou tão perto de mim que era erótico.
Tinha uma voz suave que me arrepiava.
- Se estiver doendo, levante a mão, está bem? Posso anestesiar, se você preferir.
"Doendo". Se ele soubesse o que é dor. Crateras e rombos e vazios e fisgadas de dores profundas era o que não me faltava, é o que não me falta.
O cuidado, a delicadeza, aquele fio de voz, tudo me dava vontade de chorar como uma menina. Por pouco eu não respondi:
- Anestesia, não. Eu vim aqui pra sentir dor física mesmo. Dessas de quando se abrem as crateras e se expõem os nervos inflamados dos dentes. Quero ver se, desse modo, me curo da outra, uma dor abstrata que estou sentindo não sei onde." Obsceno Abandono, pág 58
Obsceno Abandono: Amor e PerdaMarilene Felinto
Ed Record
80 págs
Marilene Felinto (1957) é uma escritora, tradutora, cronista, feminista, brasileira, de Recife.
6 comentários:
nossa... que rápida!
:))))
Obrigada pelas palavras. e bendita sorte, porque adorei vir aqui. só vi em diagonal e tenho tido pouco tempo para visitas, mas quero voltar com mais tempo.
perce-me FANTÁSTICO!
e este texto me cativou completamente. queria poder ler o livro...
Menina não conheço esse livro, mas deu vontade de ler, aliás hoje visitei a nova biblioteca aqui de Sampa, uma delicia! recomendo!!!
peguei já cinco livros deliciosos...
bjos
Estava buscando informações desse livro quando caí no seu blog por acaso. O que me motivou a lê-lo. Penso que todo Abandono é Obsceno.
[do houaiss] obsceno: que se compraz em ferir o pudor; que choca pela falta de decoro, pela vulgaridade, pela crueldade;...
e às vezes só o termo obsceno nem consegue permear as obscenidades de alguns abandonos.
Beijo
Postar um comentário