minhas cicatrizes se rasgam na pança cristalina
eu não tenho senão dois olhos vidrados e sou um órfão
havia um fluxo de flores doentes nos subúrbios
eu queria plantar um taco de snooker numa estrela fixa
na porta do bar eu estou confuso como sempre mas as
galerias do meu crânio não odeiam mais a batucada dos ossos
colégios e carros fúnebres estão desertos
pelas calçadas crescem longos delírios
punhados de esqueletos são atirados no lixo
eu penso nos escorpiões de ouro e estou contente
os luminosos cantam nos telhados
eu posso abrir os olhos para a lua aproveitar o medo das nuvens
mas o céu roxo é uma visão suprema
minha face empalidece com o álcool
eu sou uma solidão nua amarrada a um poste
fios telefônicos cruzam-se no meu esôfago
nos pavimentos isolados meus amigos constroem um manequim fugitivo
meus olhos cegam minha mente racha-se de encontro a
uma calota minha alma desconjuntada passa rodando
(do livro de poemas Paranoia, Roberto Piva)
2 comentários:
Por estes dias frios, li Piva também, gosto daquele: No parque Ibirapuera. Me lembro da Paulicéia e sinto-me verter em furias saudades...
"Quero que a Paulicéia voe por cima das árvores suspensa em teu ritmo"
E também lembrei de outro que me enche de uma estranha nostalgia: Praca da Republica dos meus Sonhos
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