mergulhem-se

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Por que não ler Paulo Coelho?

Ou "Por que ler Paulo Coelho?" Também poderia se chamar.

Neste início de ano ganhei um exemplar de um livro do Paulo Coelho de um amigo. Sem poder adiar mais o que eu jáa havia planejado antes - ler Paulo Coelho para tirar eu mesma minhas próprias conclusões sobre este autor que a crítica tanto esmaga - aventurei-me na aventura de mergulhar sobre suas páginas. O exemplar que li foi Brida. Sem querer repetir-me demais, segue parte do email que eu enviei ao tal amigo com as minhas sinceras impressões:

"Se gostei do livro de um modo geral? Não sei. De certo não é uma leitura que me desagrada, li facilmente e ficava angústiada nos momentos em que tinha que parar de ler. O Paulo Coelho sabiamente nos deixa com sede capítulo após capítulo. E por isso li tão rápido, praticamente o engoli. O livro fala de assuntos que tocam meu coração e que entendo bem. É uma linguagem (mistica? espitiual? vital? humana?) que me adoça, me gusta.

Porém de fato não é a literatura que gosto de ler. E nesse ponto talvez eu seja chata. Sinto que tanto a trama quanto a forma com que ele escreve são clichês e não encontro muito do refinamento e a complexidade que tanto gosto nos livros. A narrativa segue uma estrutura básica de tensão, climax, desfecho e catarse, e não inova muito neste ponto. A escrita se mantém com falas simples e usuais, quase esperadas. E na criação dos personagens também me falta, não que me soe simples - porque a simplicidade muitas vezes é uma virtude - talvez seja mais superficial, parece não se preocupar muito na construção das personagens e acaba por criar uma desarmonia (desproposital) às vezes entre o que a personagem fala, deseja e faz. É certo que não são personagens fúteis - não é disso que falo quando me refiro à superficialidade - elas fazem questionamentos profundos mas não se permitem perder-se e entrar nesses questionamentos e abrir a gama de leques e a complexidade que é própria deles - e o ser humano não é mesmo complexo?


enfim,

uma vez li que os livros do Paulo Coelho faziam tanto sucesso porque ao utilizar, por exemplo, frases como "quando você quer alguma coisa, todo Universo conspira para que você realize seu desejo" que determinam bem a maioria de seus livros, acabam por preencher o vazio da sociedade de massa que está afundada em desesperança, e perplexas sem entender o isolamento que se meteu o indivíduo. Porque não enxergam a origem (capitalista, ou seja lá qual) que gera aquilo tudo.

Ao ler o livro, não tenho como não concordar com esta afirmação. Embora ache que a crítica seja severa com o Paulo Coelho. Também acho que ele leva espiritualidade e abre um portal de questionamente de maneira simplificada às pessoas que não chegariam lá de outra forma. E de qualquer jeito, todos precisamos alimentar nossas esperanças e nossas almas - desde que não nos aliene."

Brida
Paulo Coelho
Editora Planeta
264 páginas


Paulo Coelho ((Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1947) é um escritor, de muitos Best Sellers, brasileiro.

4 comentários:

Flávio disse...

Julinha querida, muito boa suas iniciativas - a de ler o que muitos criticavam e a de ser sincera com seu amigo. Confesso que ainda não li, pois tenho uma preguiça enoorme, além de diversas outras coisas que preciso/quero ler na frente dele. O Comentário que gostaria de fazer diz respeito à pessoa "Paulo Coelho". Uma viz li uma entrevista dele na Playboy e me inquietou como alguém, que gostava de falar em Sociedade Alternativa em belas músicas que tem com o Raulzito, tornou-se um cretino. Na entrevista ele relatava as suas formas de humilhar pessoas com Ferrari e o dinheiro que tem. Ele me dá preguiça, no sentido mineirês dá preguiça.

Beijoca

Julia Mendes disse...

Flavinho, eu realmente não conheço nada sobre o Paulo Coelho, se ele é assim me parece mesmo cretino. É mesmo estranho que uma pessoa possa ter dois lados tão diferentes um do outro, quem o que tem por traz disso? Há que se validar as coisas boas e ruins. É claro que a gente não precisa se abrir para tudo, né, embora haja o esforço contínuo para isso, realmente tem outras coisas (livros etc) na frente.

Beijo em tu.

José Alcino Bicalho disse...

Julia , considero o misticismo uma das mais belas, talvez a mais bela, manifestação do ser humano,posto que o coloco em tão alto nível,lamento que ele esteja sendo explorado com finalidade profissional.Enfim ,sou crente no misticismo e descrente na militancia.Porque o campo é amplo e profundo, há muitos que dele se aproveitam para a prática de seu charlatanismo, o qual se manifesta de maneira mais forte quando aplicado a seres de baixo nível cultural ou a mentes que,embora denotem um alto nivel de inteligência e cultura,são de alta vunerabilidade psíquica. Constato que a India, que nos deu Mohandas Ghandi ,uma das mais belas expressões da espiritualidade universal,tem exportado para o mundo um bom contigente de gurus charlatães. Nao tenho conhecimento suficiente para criticar a obra de Paulo Coelho. Li apenas um livro seu e gostei e " that's enought". Com o meu tempo disponível para leitura e com a avalanche de publicações de hoje, ler um livro de cada autor -ainda que se chame Paulo Coelho- já é uma façanha para mim.

Um beijo do vovô Alcino.

Julia Mendes disse...

Querido, Avô,

sei do que você está falando, ou melhor compreendo, porque compreender fala de coisas que entendemos com o coração. Compreendo do misticismo porque me toca assim como toca à você, porque fala de amor, de transcendência, de possibilidades, de humanidade, de....(...). O misticismo não é matemático é homeostático, equilibra nosso ambiente interno e por consequência externo. Ouvi dizer que o importante era o silêncio interior, e o que melhor que o misticismo para nos levar até ele? A serenidade de saber-se parte de um universo tão grande e com tantos seres distintos. Também não conheço Paulo Coelho, tampouco sei de suas intenções sobre escritor, se é charlatanismo, capitalismo, ou seja lá qual "ismo". Importa se ele nos toca o coração e se toca à você já é motivo suficiente para eu adorá-lo. Espero que saibamos, como seres intuitivos e humanos, absorver as coisas boas de cada coisa que encontramos e separar as ruins. Mas nem sempre o mal é mau e o bem é bom, às vezes o mal é bom e o bem cruel e por isso é preciso considerar e validar tudo o que está ao nosso redor. Descascar das coisas o que podemos aproveitar. Tenho certeza que podemos avaliar o que nos faz bem se deixar-mo-nos guiar pelo coração. E isso tanto eu como você, dois românticos (eu por atavismo quiçá, o romantismo está no sangue), sabemos bem.

Beijo grande da neta que te ama.

Julia