Sou profissional do sofrimento
Professor do sentimento
Do amor fui artesão
Mestre do viver já fui chamado
Conselheiro do reinado
Cujo rei é o coração
Mestre do viver já fui chamado
Conselheiro do reinado
Cujo rei é o coração
Quebrei do peito a corrente
Que me prendia à tristeza
Dei nela um nó de serpente
Ela ficou sem defesa
Mas não fiquei mais contente
Nem ela menos acesa
Tristeza que prende a gente
Dói tanto quanto a que é presa
Abre meu peito por dentro
O amor entrou como um raio
Saí correndo do centro
Dentro do vento de maio
Dentro do vento de maio
mergulhem-se
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
sábado, 28 de janeiro de 2012
"O Cavaleiro Inexistente", Romance, Ítalo Calvino
Fiquei perturbada ao reler este livro, que há muito tempo havia lido em uma versão castellana no Uruguai. Não lembro de me chamado atenção como aconteceu desta vez. Pode ser uma questão de idioma, ou uma questão interna, que seja, nem sempre estamos para ler as coisas que lemos, e por isso re-ler pode ser um risco - um risco bom.
Aqui mistura-se realidade com ficção entre contextos históricos na época de Carlos Magno. O livro já inicia com algo completamente surreal, quando numa apresentação ao imperador, há um cavaleiro que não existe, ou seja somente sua armadura existe, ao levantar seu elmo, não há corpo nenhum que a preencha. Mas ele tem voz, títulos e se chama Agilulfo. À parte desta surrealidade, é incomum também a reação das pessoas que ao fim, o aceitam bem entre a sociedade. Todo o livro tem uma feição cômica incorrigível. Desde os nomes das personagens até os fatos improváveis e ridículos aos quais eles se sustentam. Comicidade que no fim podemos ler como sátiras/criticas à uma sociedade européia daquela época, mas não só, ao ser humano em geral. O cavaleiro que não existe, em oposto a toda cavalaria, é o único a se portar com honra, lealdade, limpeza e organização perfeitas, tem todos os atributos de um cavaleiro ideal, e ironicamente é o único que não é real.
Seu nome "Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Atri de Corbentraz e Surra, cavaleiro de Selimpa Citeriore e Fez" é extenso para alguém que não existe. A seu lado tem um escudeiro louco, que não sabe nem mesmo que existe, como se só tivesse seu corpo é guiado apenas por suas necessidades primitivas, fome, sede, sono etc... Contrapõe seu mestre com um nome simples "Gurdulu", o que lembra o nome de um "bicho" ou "criatura". Está posta a dupla, o escudeiro que só tem o corpo e o cavaleiro que só possui o espírito.
Não só essas duas personagens, mas também Rambaldo, Sofrônia, Torrismundo e Bradamente e o próprio Carlos Magno, compõe o livro de forma engraçada e instingante o tempo inteiro. Uma amiga me disse que o livro lembra um pouco a literatura de Cortázar, e de fato concordo, os dois autores se lembram muito quando exploram o ridículo e o fantástico em seus livros.
"O Cavaleiro Inexistente" é de leitura fácil, rápida, simples, para mim, é um livro muito bom. Simples. Simples. Que muitos podem dizer "fraco", mas que parece um erro de leitura para mim, simplesmente por não ser pretensioso pode ser confundido como “fraco”, é simples, nunca simplório. Antes dele li o "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios" de Marçal Aquino, que apesar de ter um título bonito, e não ser uma má literatura, é muito mais pretensioso do que de fato seu conteúdo dá conta, parece que tenta ser muitas coisas, mas de fato não é nada. Sinto falta de mais sinceridade, até a simplicidade aqui parece ser forçada. Os momentos em que o livro consegue ser mais honesto - e às vezes acontece nos momentos mais "bobos" - são os que o tornam mais potente e bonito e aí sim, faz juz ao título.
O Cavaleiro Inexistente
Ítalo Calvino
Companhia de Bolso
115 páginas
Aqui mistura-se realidade com ficção entre contextos históricos na época de Carlos Magno. O livro já inicia com algo completamente surreal, quando numa apresentação ao imperador, há um cavaleiro que não existe, ou seja somente sua armadura existe, ao levantar seu elmo, não há corpo nenhum que a preencha. Mas ele tem voz, títulos e se chama Agilulfo. À parte desta surrealidade, é incomum também a reação das pessoas que ao fim, o aceitam bem entre a sociedade. Todo o livro tem uma feição cômica incorrigível. Desde os nomes das personagens até os fatos improváveis e ridículos aos quais eles se sustentam. Comicidade que no fim podemos ler como sátiras/criticas à uma sociedade européia daquela época, mas não só, ao ser humano em geral. O cavaleiro que não existe, em oposto a toda cavalaria, é o único a se portar com honra, lealdade, limpeza e organização perfeitas, tem todos os atributos de um cavaleiro ideal, e ironicamente é o único que não é real.
Seu nome "Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Atri de Corbentraz e Surra, cavaleiro de Selimpa Citeriore e Fez" é extenso para alguém que não existe. A seu lado tem um escudeiro louco, que não sabe nem mesmo que existe, como se só tivesse seu corpo é guiado apenas por suas necessidades primitivas, fome, sede, sono etc... Contrapõe seu mestre com um nome simples "Gurdulu", o que lembra o nome de um "bicho" ou "criatura". Está posta a dupla, o escudeiro que só tem o corpo e o cavaleiro que só possui o espírito.
Não só essas duas personagens, mas também Rambaldo, Sofrônia, Torrismundo e Bradamente e o próprio Carlos Magno, compõe o livro de forma engraçada e instingante o tempo inteiro. Uma amiga me disse que o livro lembra um pouco a literatura de Cortázar, e de fato concordo, os dois autores se lembram muito quando exploram o ridículo e o fantástico em seus livros.
"O Cavaleiro Inexistente" é de leitura fácil, rápida, simples, para mim, é um livro muito bom. Simples. Simples. Que muitos podem dizer "fraco", mas que parece um erro de leitura para mim, simplesmente por não ser pretensioso pode ser confundido como “fraco”, é simples, nunca simplório. Antes dele li o "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios" de Marçal Aquino, que apesar de ter um título bonito, e não ser uma má literatura, é muito mais pretensioso do que de fato seu conteúdo dá conta, parece que tenta ser muitas coisas, mas de fato não é nada. Sinto falta de mais sinceridade, até a simplicidade aqui parece ser forçada. Os momentos em que o livro consegue ser mais honesto - e às vezes acontece nos momentos mais "bobos" - são os que o tornam mais potente e bonito e aí sim, faz juz ao título.
O Cavaleiro Inexistente
Ítalo Calvino
Companhia de Bolso
115 páginas
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