mergulhem-se

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Por um novo catálogo de tipos - Waly Salomão

Por aqui tem feito D dias lindos
Procurar um outro AR
ALTERAR
E o meu ser se esgota na procura patológica
Do que nem eu sei o que é
E esse é
Não há nunca
Em parte alguma
Prazer algum
Mantra mito nenhum
Que me
Baste.


ALTERAR


do livro "O MEL DO MELHOR", Waly Salomão, ed. Rocco

sábado, 24 de dezembro de 2011

poema I de "Prelúdios-intensos para os desmemoriados do amor", Hilda Hilst

I

Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.