mergulhem-se

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Apuntes de una risa triste, conto, Hernán Rivera Letelier

Apuntes de una risa triste

Mi risa no sabe de peces de colores. siempre han sido grises sus pocos peces, rigurosamentes grises. Jamás han desplegado lienzo de oreja a oreja mi torpe risa; apenas un estirar de hocico leporino en mitad de un sueño, apenas un rictus de ángel idiota cuando río solo; apenas - nadie se mueve a engaños - la mueca de la Tragedia vueltas patas arribas en mis retratos. Menos todavía sabe de carcajadas mi enferma risa, de esas que al estallar hacen aletear el alma en torno a la cara. las suyas_ de estallar alguna vez-, sonarían como de una boca llena de piezas de oro o insondable de peledas encías: tal y cual deben resonar en los sótanos del cielo de las vésanicas carcajadas de dios riéndose de si mismo.





















- -- - traduzindo


Apontamentos de um riso triste

Meu riso não conhece peixes coloridos. Seus poucos peixes sempre foram cinzas, rigorosamente cinzas. Jamais exibiu um lenço de orelha à orelha meu riso torpe; apenas um estirar de focinho leporino na metade de um sonho, apenas um ricto de anjo idiota quando rio sozinho; apenas - ninguém se move por enganos - a careta da Tragédia envolta com as patas em cima dos meus retratos. Muito menos gargalhas conhece o meu riso enfermo, dessas que ao explodir fazem vibrar a alma ao redor da cara. As suas - explodindo alguma vez - soariam como de uma boca cheia de peças de ouro ou insondável de gengivas nuas: tal qual devem ressoar nos sótãos do céu as gargalhadas insanas de deus rindo de si mesmo.


(do livro de contos "Donde mueren los valientes", Hernán Rivera Letelier, ed. punto de lectura)

the bluebird, poema, Charles Bukowski


the bluebird

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?



---- traduzindo



o pássaro azul

há um pássaro azul no meu coração que
quer sair
mas eu sou duro com ele,
eu digo, fique aí, eu não vou
deixar ninguém te
ver.

há um pássaro azul no meu coração que
quer sair
mas eu encho ele de whiskey e
fumaça de cigarro
e as putas e os garçons
e os balconistas dos mercados
nunca percebem que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração que
quer sair
mas eu sou muito duro com ele,
eu digo,
fica quieto, você quer armar
pra mim?
quer ferrar com meu
trabalho?
quer acabar com a venda dos meus livros na
Europa?

há um pássaro azul no meu coração que
quer sair
mas eu sou muito esperto, eu só o deixo solto
às vezes de noite
quando todo mundo está dormindo.
eu digo, eu sei que você está aí,
então não fique
triste.
então eu o recolho novamente,
mas ele canta um pouco
lá dentro, eu não o deixo
morrer totalmente
e nós dormimos juntos
desse jeito
com nosso
pacto secreto
e isso é o bastante
para fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

(primeiro de oito poemas) Emily Dickinson

I

Podia viver - viveu. Podia morrer - morreu.
Podia sorrir de tudo
por acreditar em quem não encontrou
para dar sua alma.

Podia passar de um cenário familiar
a uma terra estrangeira;
podia contemplar a viagem
com um claro coração.

Esse crédito teve entre nós,
não mais entre nós hoje em dia.
Nós que vimos sua partida,
jamais cruzamos a baía.