mergulhem-se

segunda-feira, 28 de março de 2011

Diário de Andrés Fava, Julio Cortázar

Às vezes esqueço como é importante (talvez uma palavra menos imponente, talvez 'surpreendente') reler um livro, ainda mais como Cortázar, e escritores comme ça que, deste jeito mesmo incisivos, podem nos atravessar de diversas (até opostas) maneiras a cada vez que são lidos. Tive que rebocar minha memória para reler "O Diário de Andrés Fava", que me parecia completamente estranho (novo). (E daí vem Heráclito com a história de que mudamos etc e tal, mas não é disso que estou falando, pelo menos acho que não só. Fala muito da força independente que o livro tem para te abraçar de tantos lados). ...

Cortázar escreveu este livro em 1950 e só veio a publicá-lo em 86. O seu objetivo original era agregá-lo ao romance "El examen" (publicado no Brasil como 'O exame final'), mas como o Diário de Andrés Fava demonstrava vida própria, Cortázar decidiu guardá-lo para uma outra publicação. O que para mim deve ter sido o mais coerente, apesar de não ter lido ainda El Examen, mas o que parece é que o livro é tão independente que se poderia arrancar as páginas e elas valeriam por si mesmas. São citações, fragmentos, lembranças, pequenos relatos, observações (e angústias literárias)...Enfim. Um livro que se possa recorrer sempre. E se mantém perto.


"Além disso, não se deve procurar o mesmo amigo dois dias seguidos - por isso tempos três ou quatro, e os revesamos e revesamos: a segunda visita provavelmente seria aborrecida. Alterando um pouquinho certo ditado italiano: L'amico è come il pesce: dopo tre giorni, puzza." (Amigo é como peixe: depois de três dias, fede.)

"Uma coisa é acariciar o teu cabelo, e outra é encontrá-lo na sopa".

"Ainda sobre o suposto "sofrimento" do escritor: se de fato tens de sofrer, que não seja por causa do que escreves, mas como o fazes"






Diário de Andrés Fava
Julio Cortázar
Ed. José Olympio
127 páginas

Nenhum comentário: