(Susan Sontag)
"Assim vivemos agora" parece escrito em uma só sentada, inspiração, expiração e fim. Pequeno e quase sem pausas. Parágrafos contínuos. Inúmeros personagens comentam sobre o amigo que está na cama de um hospital depois de contrair e se manifestar o HIV. A voz do paciente nunca aparece a não ser parafraseado por outras vozes, "disseram que ele disse", e nesse diz-que-diz se passam todas as conversas, entre vírgulas infindáveis, parece que vamos perder o ar e o livro acaba.
Como lidar com a gradual morte de um amigo, de uma doença que não se sabe quase nada e a expectativa de que a partir de agora pode ser qualquer um de nós. É para ler de uma só vez, do jeito como foi escrito. Às vozes ficam tão próximas nessa espécie de transe lingüístico que parecem pessoas cochichando ao seu lado e você não consegue distinguir exatamente quem está falando. É muito bonito. Doído. Um dos primeiros registros ficcionais sobre a AIDS.
"Ele disse para Tanya (segundo Greg), quer dizer, se realmente estou doente, o que eu ganho se for ao médico?" p.11
"Bem, todo mundo está preocupado com todo mundo agora, disse Betsy, parece ser assim que vivemos, assim que vivemos agora." p.19
"ele pensava sobre isso, o fim da farra, o fim da loucura, o fim da vida confiante, o fim de ver a vida como uma coisa garantida e de tratar a vida como algo que, feito um samurai, se considerasse disposto a jogar fora de coração leve, despudoradamente;" p.42
"E ele disse certa manhã para Quentin, o medo me rasga, me abre; e para Ira, ele me aperta, me espreme em direção a mim mesmo. O medo tinge, euforiza todas as coisas." p.47/48
Assim Vivemos Agora
Susan Sontag
Tradução de Caio Fernando Abreu
Ed. Cia das Letras
56 páginas
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