Confissões de Uma Máscara conta a infância e juventude de Kochan, garoto que vive no contexto da Segunda Guerra Mundial no Japão.
Mishima lança uma narrativa em primeira pessoa que mergulha numa amálgama de conflitos interiores e contínua busca do personagem pelo seu verdadeiro "eu". O título do livro faz alusão já a este conflito enquanto Kochan às vezes confessa vestir propositalmente a "máscara social" escondendo seus anseios mais íntimos e em outras fica realmente confuso sobre o que faz parte verdadeira de si e o que é imposição de sua própria cabeça. Há uma descoberta intensa da sexualidade e tentativas de adequação do que seria a "normalidade" - termo que Mishima usa várias vezes durante o livro - que se confundem constantemente com os impulsos e fantasias reais de Kochan. Dentro de suas primeiras descobertas está Omi, um colega repetente da escola, por quem Kochan invariavelmente se excita. Os embates dentro de si rodeiam sempre a sua dificuldade de conciliar o amor e desejo sexual e um fetiche constante em relação a morte que o contexto de entreguerra só alimenta e prolifera. A busca intensa para definir o amor ocorre enquanto Kochan se pergunta se seria possível amar desprovido do impulso sexual - como o amor que pensa sentir por Sonoko - ou se esta espécie de amor seria apenas uma farsa imposta por si mesmo?
O Romance é escrito de forma muito poética e às vezes pode parecer até ingênuo pela sinceridade com que os sentimentos e conflitos são revelados. Li alguns artigos que esta história contém muitos dados auto-biográficos de Mishima, desde dados idênticos da infância até a relação com a sua homossexualidade, os fetiches mórbidos e uma paixão por samurais - representantes de um Japão tradicional.
"Visto sob essa luz, meu ciúme - ciúme violento o suficiente para me fazer dizer a mim mesmo que havia renunciado ao meu amor - era ainda mais amor" pág 62
"A auto-ilusão era agora meu último raio de esperança. Uma pessoa que tenha sido seriamente ferida não exige que os curativos de emergência que lhe salvam a vida estejam limpos. Detive meu sangramento com as ataduras da auto-ilusão, com que pelo menos estava familiarizado, e não pensei em nada mais além de correr para o hospital" pág 144
Confissões de Uma Máscara
Yukio Mishima
Circulação do Livro
184 págs
(Esta é uma edição antiga, mas é possível achar uma edição recente da Cia das Letras)
Yukio Mishima é o pseudonimo de Kimitake Hiraoka, um dos escritores mais conhecidos do Japão; se matou - cometendo seppuku, um ritual em que os samurais cortam o próprio ventre para mostrar a pureza de seu carater - após uma tentativa falida de discursar para os soldados do quartel japonês tentando convencê-los de que desistissem da constituição e voltassem às tradições imperiais.
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