De Quincey narra aqui parte de sua vida entrevada pelo uso do ópio e as motivações que fizeram chegar e sair dele. A escrita é corrida, sem lógica bruta, quase como de associação livre, mas de enorme coerência. Dizem que o estilo é pela influência do ópio, mas creio, como ele mesmo se descreve, é como se apenas estivesse "pensando alto". Talvez por isso se encaixe bem na escrita moderna, apesar de pertencer ao séc 18/19.
Talvez os propósitos deste relato perpassem pela instrução, ilustração dos efeitos opiáceos, ou já um estudo inicial sobre a exploração da mente a partir do sonhos - são muitos os descritos no livro. Mas como De Quincey também sinaliza na primeira página, creio que o livro seja um expoente para vir a tona com as "úlceras e cicatrizes morais, rasgando aquele véu de decência que o tempo, ou a indulgência para com a fragilidade humana, fez descer sobre ele [homem inglês]".
"Crime e desventura repelem, por instinto natural, a publicidade"
"desenredei, quase até o último nó, o emaranhado de cordas que me atava."
"Mas, como não acredito facilmente que um homem que tenha experimentado uma vez a divina luxúria do ópio se contentará com os prazeres grosseiros e mortais do álcool, dou por garantido que agora o comem os que nunca comeram; E os que sempre comeram agora comem ainda mais."
"A felicidade podia agora ser comprada com uma moeda e carregada no bolso do casaco: êxtases portáteis poderiam ser engarrafados e a paz de espírito poderia ser remetida em galões pela diligência do correio."
"Certamente é um absurdo dizer, usando linguagem popular, que o homem se disfarça com o álcool, pois, ao contrário, a maioria se disfarça com a sobriedade;..."
Confissões de um comedor de ópio
Thomas De Quincey
Ed. L&PM POCKET
146 páginas